O Rafeiro

Letra: Daniel Gouveia
Música: Daniel Gouveia
Guitarra: Fernando Silva.  Viola: Carlos Macieira, Francisco do Carmo.  Viola-Baixo: Fernando Nani
(CD Viver, Faixa 11, Primetime, 2021.)

O RAFEIRO

Tinha o pêlo revolto, luzidio,
focinho arrebitado, olhar ladino.
Era rafeiro, sim, era vadio.
Mas quis ser meu, quando eu era menino.

Levava a minha cesta do almoço,
quando eu ia prá escola, em galopada,
e esperava-me ao voltar, em alvoroço
por uma festa minha... por mais nada.

Punha o Chico do Talho em polvorosa:
p'ra lhe roubar um naco, tinha manhas.
Lambia a mão da velha Tia Rosa,
sentada ao fogareiro, a assar castanhas.

Ao Zé Ardina guardava a sacola,
quando um jogo à socapa era a notícia.
E, p'rá equipa não ficar sem bola,
rasgou um dia as calças ao polícia.

Hoje, a rua que foi da minha infância
parece mais estreita, mais sombria.
Falta um certo latido na distância...
Sobra saudade dessa companhia.

Chamo, em silêncio, o nome que foi dele.
E o eco da viela onde o perdi
em silêncio me grita que, sem ele,
está tão diferente o bairro onde eu nasci!

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